Emancipação da alma é um estado particular da vida humana durante o qual a alma (Espírito encarnado), liberta-se parcialmente de laços que o prendem ao corpo físico e recupera algumas de suas faculdades espirituais, podendo então participar de atividades do mundo espiritual e entrar mais facilmente em comunicação com os seres desencarnados (os Espíritos). Esse contato com a fonte espiritual representa uma espécie de “recreação da alma”, enquanto espera a libertação completa da labuta própria da existência física (reencarnação). Esse estado de desprendimento parcial se manifesta principalmente pelos fenômenos dos sonhos, da segunda vista, do sonambulismo natural ou magnético, e do êxtase. Na codificação do Espiritismo, a parte conceitual deste tema foi trabalhado mais especificamente no capítulo VIII da Livro Segundo da obra O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, e, como seu desenvolvimento prático, ao longo de todo o conteúdo de O Livro dos Médiuns, considerando assim que da emancipação da alma se desdobram os fenômenos mediúnicos e medianímicos (animismo). No meio espiritualista comum, esse estado também é chamado de desdobramento espiritual, fazendo alusão à vivencia que a consciência experimenta no duplo mundo: material e espiritual.
As diversas experiências carnais cumprem um papel essencial no processo evolutivo do Espírito, por isso a lei de reencarnação é uma imposição divina a todos os Espíritos em aperfeiçoamento. Porém, a estadia na vida física de alguma forma limita as capacidades espirituais e, quanto mais imperfeito for o ser, mais rudes tendem a ser as condições da vida carnal, de modo que o corpo humano lhe pareça uma prisão, da qual o Espírito almeja livrar-se o quanto antes:
O Espírito encarnado permanece de boa vontade no seu envoltório corporal?
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec – questão 400
“É como se perguntasse se o prisioneiro gosta da prisão. O Espírito encarnado aspira incessantemente por sua libertação, e quanto mais grosseiro for o envoltório, mais o Espírito deseja ficar livre deste.”
Não obstante, o ser encarnado em certos momentos desfruta de um estado especial em que se desprende em parte da prisão carnal e então recobra algumas potencialidades de Espírito. Allan Kardec chamou esse estado especial de Emancipação da alma, cuja definição ele deu nos seguintes termos:
“Emancipação da alma: estado particular da vida humana durante o qual a alma, desprendendo-se parcialmente de seus laços materiais, recupera algumas de suas faculdades do Espírito e entre mais facilmente em comunicação com os seres incorpóreos.”
Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, Allan Kardec – ‘Vocabulário espírita’
Desse modo, a emancipação da alma consiste num recreio para o Espírito em meio à luta da vida física:
“(...) é a porta que Deus lhes abriu em direção aos seus amigos do céu; é a recreação depois do trabalho, enquanto esperam a grande libertação, a libertação final que deve devolvê-los ao verdadeiro ambiente deles.”
O Livro dos Espíritos - questão 402
Na condição de provisória liberdade, a alma pode ver e interagir com o mundo espiritual e com os Espíritos, por exemplo, fazendo uso da transmissão oculta do pensamento (telepatia). A alma emancipada também pode fazer excursões no próprio mundo onde está encarnado, bem como visitar e interagir com pessoas vivas também em estado de emancipação.
Sem a necessidade dos sentidos físicos, por assim dizer a alma emancipada vê “pelos olhos da alma” e escuta “pelos ouvidos da alma”, caracterizando assim o fenômeno da segunda vista (ou dupla vista):
“A emancipação da alma se manifesta algumas vezes no estado de vigília e produz o fenômeno conhecido como segunda vista, que dá àqueles que dela são dotados a faculdade de ver, de ouvir e de sentir além dos limites de nossos sentidos. Eles percebem coisas ausentes em toda parte para onde a alma estenda sua ação; eles as veem, por assim dizer, através da visão comum e por uma espécie de miragem.”
O Livro dos Espíritos - questão 455
Outros dois fenômenos também reconhecidos como efeitos da emancipação da alma são bicorporeidade e transfiguração: o primeiro diz respeito ao tipo de manifestação em que a consciência se torna-se visível em outra localidade, às vezes muito distante de onde está o corpo de sua encarnação; o segundo é caracterizado pela mudança de aspecto fisionômico do corpo no qual a alma encarnou.
Ainda segundo a definição de emancipação da alma no Vocabulário Espírita contido no livro Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, tal estado de desdobramento “se manifesta principalmente pelos fenômenos dos sonhos, do sonilóquio, da dupla vista, do sonambulismo natural ou magnético, e do êxtase”. Os diversos tipos do estado emancipado estabelecem os variados níveis de liberdade que a alma experimenta, a saber:
Quanto maior o nível de desprendimento alcançado pela alma, mais a sua emancipação lhe proporciona melhores manifestações espirituais.
De maneira geral, o estado de emancipação da alma possibilita que o encarnado produza fenômenos espirituais dos quais ele próprio é o agente, a fonte das manifestações; por assim dizer, ele é o transmissor (médium) de si mesmo, ou seja, da sua alma. Nesse sentido é que o codificador espírita definiu o fenômeno medianímico, de medianimidade = médium da própria alma (animus ou änima, em latim). Portanto, em casos assim, a alma manifesta o que ela mesma viu. Na literatura espiritualista tais fenômenos são mais conhecidos pela denominação: animismo, fenômeno próprio da alma.
Noutra situação, a possibilidade de alcançar certa emancipação da alma permite ao encarnado entrar num transe mediúnico, que é um fenômeno caracterizado pela ação externa de um Espírito (um ser desencarnado) sobre um encarnado, que então lhe serve de médium, um intérprete da mensagem espiritual, ensejando assim o princípio natural da comunicabilidade dos Espíritos.
Os fenômenos de emancipação da alma apresentam também um importantíssimo resultado prático, que é o de evidenciar a imortalidade da alma e a existência do mundo espiritual. Nesse sentido, falando dos fenômenos sonambúlicos, mas podendo se estender a todos os casos da alma emancipada, diz Kardec:
“Pelos fenômenos do sonambulismo — seja natural, seja magnético — a Providência nos dá a prova irrecusável da existência e da independência da alma, e nos faz assistir ao espetáculo sublime da sua emancipação; com isso, ela nos abre o livro de nossa destinação. Quando o sonâmbulo descreve o que se passa à distância, é evidente que ele vê, mas não pelos olhos do corpo; vê a si mesmo e se sente transportado para lá; há, portanto, algo dele naquele lugar, e esse algo, não sendo seu corpo, só pode ser sua alma ou Espírito. Enquanto o homem se perde nas sutilezas de uma metafísica abstrata e ininteligível para correr em busca das causas de nossa existência moral, Deus coloca diariamente ao alcance dos seus olhos e de suas mãos os meios mais simples e evidentes para o estudo da psicologia experimental.”
O Livro dos Espíritos - questão 455
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